DARIO RAMOS BARBOSA (1922-1989)

A trajetória do médico Dario Ramos Barbosa é um exemplo que deve servir para orientar as novas gerações. Profundamente dedicado ao estudo e à pesquisa, dotado de grande senso humanitário, este alagoano desempenhou as atividades de odontólogo inicialmente, e de oftalmologista, de 1962 a 1989, ano em que faleceu.
Dario Ramos Barbosa (nascido em 20/10/1922), com o seu idealismo e a sua tenacidade, foi um vencedor nas duas profissões que abraçou.
Formou-se em Odontologia em 1948 na Faculdade de Medicina e Cursos Anexos de Odontologia e Farmácia da Universidade Federal de Pernambuco, em1960 graduou-se também em Medicina, na Universidade Federal de Alagoas. Quatro anos depois de formado em Odontologia foi aprovado no Curso de Formação de Oficiais Dentistas da Escola de Saúde do Exército ocupando uma das três vagas existentes no Brasil para o cargo de dentista, tendo sido admitido como tenente-dentista do Exército Brasileiro. Concluído o curso médico, realizou estágio durante dois anos, no serviço de oftalmo-otorrinolaringologia da Universidade Federal de São Paulo (1960-1962).
Retornando a Maceió, foi um dos primeiros, depois do dr. Artur Breda, a exercer exclusivamente a oftalmologia, pois até aquela época os médicos atuavam simultaneamente nas duas especialidades. Seu primeiro consultório funcionou no Edifício Maceió, à rua do Livramento, no período de 1962 a 1966.
Em 1966 ele fundou o Instituto Santa Luzia, primeira clínica de Alagoas especializada em Doenças Oculares, situada no Parque Rio Branco. Alguns anos depois mudou-se para uma sede própria na Praça Sr. do Bomfim, agora com o nome de Casa de Saúde Santa Luzia. Por quase três decadas após sua fundação, foi a única referência no estado, no que se refere especificamente ao tratamento clínico e cirúrgico das enfermidades oculares. Naquela época  cerca de quinze oftalmologistas faziam parte de sua equipe médica.
Em 1986 transferiu a direção da Saúde Santa Luzia para o filho Dalton Ramos e a nora Gilva Ramos (ambos oftalmologistas), os quais deram continuidade ao seu trabalho e construiram e inauguraram uma nova sede no bairro da Gruta de Lourdes, que por seu porte e projeto, que obedecia às mais modernas normas da arquitetura hospitalar da atualidade e equipada com os mais avançados equipamentos da época, passou a ter a denominação de Hospital de Olhos Santa Luzia e com certeza seria motivo de orgulho para o Dr. Dario se ainda estivesse em nosso convívio.
No campo da Odontologia, logo após regressar de Recife, foi um dos fundadores da Faculdade de Odontologia de Maceió – posteriormente incorporada pela Ufal – instituição onde exerceu invulgar contribuição: professor de 1961 a 1967, diretor de 1964  a 1970, e em seu mandato construiu a nova sede, à rua Aristeu de Andrade, Bairro do Farol. Marcou também sua atuação no magistério superior, como professor Ctedrático de Anatomia daquela Faculdade, e professor da mesma disciplina no Centro de Ciências Biológicas da UFAL.
Participando constantemente de congressos científicos da especialidade, Dario Ramos Barbosa filiou-se à Sociedade Alagoana de Oftalmologia, em 1962. Possuidor de registro nos Conselhos Regionais de Odontologia e Medicina, integrou o Lions Internacional, prestando relevantes serviços à comunidade.
Na década de 70, como a facectomia intracapsular apresentava certo índice de perda de vítreo e era atribuída, entre outras causas, à injeção retrobulbar e a pressão que exercia atrás do olho, o dr. Dario começou a observar que poderia anestesiar o segmento anterior infiltrando anestésico sob a conjuntiva a 3 mm do limbo, nos 4 quadrantes, e realizar a cirurgia sem nenhuma queixa do paciente. Adicionalmente observou também uma redução nos casos de perda vítrea. Alguns anos depois verificou que poderia reduzir o edema conjunival produzido pelo volume de anestésico se o injetasse nos mesmos locais, porém sob a tenon. A partir de 1975 não mais fazia retorbulbar em cirurgias de catarata e chegou a publicar um trabalho sobre estas observações e resultados na Revista Brasileira de Oftalmologia nº 04 vol. XXXIII de 1979. Cerca de desessete anos depois das primeiras observações, em 1992, Stevens e Greembaum descreveram a técnica da anestesia local subtenoniana, também chamada de anestesia “Flush”, hoje aplicada em um único quadrante, anestesiando todo o segmento anterior e até o segmento posterior, se for injetada mais profundamente  sendo usada em cirurgias de catarata, cirurgias filtrantes e estrabismo. Vale salientar que hoje a cirurgia de catarara realizada com anestesia tópica, corrobora as observações do Dr. Dario já década de 1970, que o segmento anterior poderia ser anestesiado sem a utilização de injeção retro-bulbar.
Ao longo de quarenta e um anos, Dario Ramos Barbosa esteve casado com Dalva Severina de Oliveira Ramos, sua admiradora e colaboradora na administração da Casa de Saúde. Do casamento, nasceram onze filhos todos com curso de graduação e dentre eles Dalton e Olívia Ramos seguiriam a especialidade médica do pai e uma filha, Maria Aparecida o seguiu na Odontologia.
Ao falecer, em 1989, Dario Ramos Barbosa transferiu aos seus sucessores um legado de cultura e permanente aperfeiçoamento, e para os alagoanos uma lição de competência médica e acentuada humildade.